Coração
- José Nuno Severino
- 21 de mar.
- 1 min de leitura
O coração apaixonado
é tão dependente como autónomo.
Um paradoxo completado
pelo pobre e pelo megalómano.
Consegue criar ideias tão abismalmente contraditórias,
que se percebe que incendeie tanto quem cria como quem lê.
E, desse modo, em ambos se crê
na veracidade dessas histórias.
Um dia, de rosto frio,
acredita merecer quem deseja.
Noutro, se faz vazio,
e sente-se possuído por desbrio e inveja.
Hoje acredito, ao olhar uma musa,
que só eu mereço alguém assim.
Amanhã a vejo, num pranto e recusa,
como boa demais para mim.
O coração apaixonado é tão sábio quanto ignorante.
Encontra força e bravura capaz
de perdoar quem, no passado, não mereceu. Não obstante,
ressente até mesmo quem jaz.

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